O uso de suplementos de colágeno é eficaz para tratamento de artrose?

por Laura Fonseca

O termo colágeno se refere a um grupo de proteínas produzidas pelo próprio corpo que são responsáveis pela resistência da pele, pelo crescimento e pela fortificação de cartilagens e ossos1. A diminuição da disponibilidade dessas proteínas pode originar problemas como fragilidade dos ossos, inflamação nas articulações, doenças cutâneas e até mesmo em problemas de crescimento2.

Tendo em vista a importância do colágeno, foram desenvolvidas formas dessas proteínas que são comercializadas como suplementos. Esses tiveram grande adesão por parte dos consumidores e possuem ampla variedade de apresentações no mercado, sendo marcante a presença de colágeno hidrolisado2. O colágeno hidrolisado é extraído de tecidos animais e passa pelo processo chamado de hidrólise, no qual cada molécula de colágeno é dividida em partículas menores, denominadas peptídeos. Quando consumidos, esses peptídeos estimulam o organismo a produzir as fibras de colágeno e, dentre os efeitos esperados está o fortalecimento do tecido ósseo e das cartilagens articulares. Nesse sentido, acredita-se que a ingestão diária de colágeno seja vantajosa para indivíduos com doenças reumáticas2,3.

As doenças reumáticas são um conjunto de doenças caracterizadas pela inflamação em regiões articulares. Essas inflamações causam dor, inchaço, rigidez e dificultam a realização de movimentos. A osteoartrite, também conhecida como artrose, tem potencial incapacitante e afeta a cartilagem articular, majoritariamente a de articulações que estão em constante movimento, como joelhos, dedos, quadril e lombar3,4.

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Em uma revisão sistemática, com o objetivo de avaliar a eficácia dos derivados de colágeno no tratamento de osteoartrite, foram analisados seis ensaios clínicos envolvendo o colágeno hidrolisado. Nos estudos, comparou-se a ingestão desse tipo de colágeno à administração de placebo (comprimido sem substância ativa) ou ao sulfato de glucosamina, um medicamento já utilizado no tratamento da osteoartrite3.

Na análise agrupada dos estudos, em que se avaliou o uso de colágeno hidrolisado versus placebo por um período médio de seis meses, observou-se que o suplemento proporcionou pequena redução das dores articulares e da incapacidade, porém essa redução não foi significativamente maior do que a observada no grupo que fez uso de placebo. Já na comparação entre o colágeno hidrolisado e o sulfato de glucosamina, quando consumidos durante 90 dias, foi constatada maior diminuição da dor entre pacientes que utilizaram o colágeno. Além disso, em nenhuma das comparações houve resultados significativos para melhoria da qualidade de vida e rigidez das articulações dos pacientes após o uso do colágeno hidrolisado3.

Os eventos adversos associados à utilização de colágeno hidrolisado também foram analisados na revisão sistemática. Foram identificadas alterações gastrointestinais como náuseas, desconforto na região abdominal, diarreia e flatulência. Desse modo, concluiu-se que os derivados de colágeno parecem ser seguros, uma vez que somente eventos adversos classificados como leves ou moderados foram relatados. Essa segurança pode favorecer a escolha do colágeno como uma alternativa de tratamento, embora os benefícios de seu uso sejam pouco expressivos. Assim, cada caso deve ser considerado por profissionais da saúde juntamente com o paciente, para que sejam tomadas decisões apropriadas3.

Apesar de o colágeno hidrolisado apresentar algum potencial de diminuir as dores sentidas por pacientes acometidos por osteoartrite, conclui-se que ainda não há evidências suficientes para que ele seja utilizado como tratamento principal da artrose. Dessa forma, mais pesquisas são necessárias para estimar os benefícios da utilização do produto, e também para que seu mecanismo de ação em cartilagens articulares (ou em outros componentes presentes na articulação, como os ossos) seja melhor elucidado2,3,5. Frente ao fácil acesso aos suplementos contendo colágeno, recomenda-se cautela em seu uso e a avaliação por um profissional de saúde.

Referências

  1. Junqueira LCU, Carneiro J. Histologia Básica 12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013.
  2. Figueres Juher T, Bases Perez E. [Revisión de los efectos beneficiosos de la ingesta de colágeno hidrolizado sobre la salud osteoarticular y el envejecimiento dérmico]. Nutr Hosp. 2015;32 Suppl 1:62-6.
  3. Van Vijven JPJ, Luijsterburg PAJ, Verhagen AP, van Osch GJVM, Kloppenburg M, Bierma-Zeinstra SMA. Symptomatic and chondroprotective treatment with collagen derivatives in osteoarthritis: a systematic review. Osteoarthritis and Cartilage. 2012;20(8):809
  4. World Health Organization. Chronic rheumatic conditions [Internet]. [acesso em 2019 abr 11]. Disponível em: https://www.who.int/chp/topics/rheumatic/en/
  5. Senabre Gallego JM, Salas Heredia E, Santos Soler G, Rosas J. RÉPLICA: An overview of the beneficial effects of hydrolysed collagen intake on joint and bone health and on skin ageing. Nutrición Hospitalaria. 2016;33:193-4.

É vantajoso aplicar produtos contendo vitamina C na pele?

por Marina Rezende Da Silveira

O ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C, é uma substância essencial para os seres humanos, sendo muito importante para diversas funções no organismo, como a estimulação do sistema imunológico e prevenção de doenças, tais como o escorbuto*1. Essa vitamina não pode ser sintetizada pelo próprio corpo e por isso deve ser obtida através da alimentação, preferencialmente por meio de vegetais e frutas2,3. A ingestão recomendada de vitamina C para adultos é de 75 a 100mg/dia e, em caso de infecções, gravidez e tabagismo, doses maiores podem ser necessárias2,4. Além dos benefícios já conhecidos, obtidos por meio da ingestão, produtos com essa vitamina para uso externo são utilizados com o objetivo de aprimorar a saúde e aparência da pele³. Apesar de existirem mecanismos que justifiquem esse uso, há algumas limitações, o que levanta questionamentos sobre a real contribuição da vitamina C administrada por via tópica3.

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Fonte: Google Imagens

A vitamina C tem um papel importante na produção e estabilização de colágeno, proteína responsável pela capacidade elástica e resistência da pele. Com o envelhecimento, ocorrem alterações na forma dessa proteína e redução de seus níveis no organismo, provocando diminuição da elasticidade e espessura da pele, o que causa o aparecimento de rugas2. O uso tópico da vitamina C pode estabilizar e aumentar a produção de colágeno na pele envelhecida2,3. Outra questão interessante, é que essa vitamina também age no clareamento da pele, pois atua na inibição da produção de melanina (proteína responsável pela pigmentação), sendo então indicada para tratamentos de manchas e melasma*3.

Além disso, a vitamina C protege a pele contra a ação dos raios ultravioleta (UV), os quais promovem a geração de radicais livres5. A proteção fornecida por essa vitamina se deve ao fato de que essa é um antioxidante muito abundante na pele humana, protegendo-a dessas espécies reativas5. Tal característica é importante, já que esses radicais causam danos às proteínas e ácidos nucleicos (principais componentes do DNA) e podem estar entre os fatores responsáveis pela aceleração do envelhecimento e a ocorrência do câncer de pele5.

 Apesar do uso tópico da vitamina C ser potencialmente benéfico para a pele, essa via de administração apresenta fatores limitantes, já que não é uma substância fácil de ser absorvida. A molécula é instável e, por ser solúvel em água, possui dificuldade em ultrapassar a barreira da pele, pois nela há uma camada lipídica, sendo necessário valores de pH e concentrações específicas para a sua penetração6. Portanto, os benefícios do uso externo dessa vitamina dependem das propriedades do produto utilizado3.

Outro possível fator limitante é a saturação da quantidade de vitamina C disponível no sangue. Ao ser ingerida, a vitamina chega à pele por meio da corrente sanguínea, de modo que a sua quantidade aumenta à medida em que há aumento da ingestão. Porém, quando a concentração plasmática alcança um nível máximo, não há mais transferência para a derme. Assim, caso haja saturação da vitamina no sangue, esta provavelmente não será absorvida pelo meio externo e seu uso tópico não será efetivo3.

Assim, embora a vitamina C seja essencial para a saúde da pele e o seu uso tópico tenha potenciais benefícios, sua instabilidade e absorção limitada por via externa, dificultam o acesso a produtos realmente eficazes. Dessa forma, é importante garantir a obtenção dessa vitamina por meio da alimentação e manter o uso tópico somente em situações nas quais se observe uma relação custo-benefício positiva.

 

*Glossário:

Escorbuto: Doença causada pela ausência de vitamina C. Os sintomas incluem má cicatrização das feridas, hemorragias e inchaço na gengiva7.

Melasma: Condição em que ocorrem manchas hiperpigmentadas, geralmente na face. É mais comum em mulheres e pessoas com tipos de pele mais escuros. É possivelmente provocado por raios UV e influências hormonais8.

Referências:

1- Telang PS. Vitamin C in dermatology. Indiandermatology online journal. 2013;4(2):143-6.

2.Manela-Azulay M, Mandarim-de-Lacerda CA, Perez MdA, Filgueira AL, Cuzzi T. Vitamina C. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2003;78:265-72.

3- Pullar JM, Carr AC, Vissers MCM. The Roles of Vitamin C in Skin Health.Nutrients. 2017;9(8).

4-National Institutes Of Health. Vitamin C. Bethesda, Marlyland; 2018.[acesso em 2019 abr 15].Disponível em: https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminC-HealthProfessional/

5-Al-Niaimi F, Chiang NYZ. Topical Vitamin C and the Skin: Mechanisms of Action and Clinical Applications. The Journal of clinical and estheticdermatology. 2017;10(7):14-7.

6-Crisan, Diana et al. “The role of vitamin C in pushing back the boundaries of skin aging: an ultrasonographic approach.” Clinical, cosmetic and investigational dermatology vol. 8 463-70. 2 Sep. 2015

7-Maxfield L, Crane JS. Vitamin C Deficiency (Scurvy) [Updated 2019 Jan 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2019 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK493187/

8-Ogbechie-Godec OA, Elbuluk N. Melasma: an Up-to-Date Comprehensive Review. Dermatology and therapy. 2017;7(3):305-18.