Vacinas contra herpes zoster e catapora: formulações diferentes que previnem manifestações do mesmo vírus

por Aline de Cássia Magalhães

O vírus varicela-zoster (VVZ, herpes-vírus humano tipo 3) é o agente causador da varicela (catapora) e do herpes zoster, popularmente conhecido como “cobreiro” ou zona1,2. A catapora é a primeira manifestação clínica infecciosa desse vírus, mas ele pode se disseminar pela corrente sanguínea e atingir os gânglios nervosos, onde permanece em estado latente3,4. Em pessoas com sistema imune mais fragilizado pode haver reativação do vírus, que percorre as fibras nervosas até atingir regiões da pele provocando lesões dolorosas características do herpes zoster2,3,5.

A manifestação clínica inicial do herpes zoster é caracterizada por coceira e sensação de formigamento em regiões da pele, seguido do aparecimento de pequenas bolhas vermelhas que podem se desenvolver em diferentes tamanhos e formam aglomerados em um local avermelhado na pele. Essas lesões geralmente aparecem em um único lado do corpo, mas também podem aparecer em outras áreas em menor proporção. Normalmente, o local lesionado apresenta-se dolorido e com hipersensibilidade1,2,3.

O herpes zoster tem maior probabilidade de ocorrência em idosos e em pacientes com baixa imunidade, sendo mais grave em imunocomprometidos, devido à relação da reativação do vírus com a capacidade imunológica2,5. Também por esse motivo, a gravidade da doença aumenta com o avanço da idade4. Assim as complicações decorrentes da infecção, como a neuralgia pós-herpética*, mostram-se mais intensas em pessoas mais velhas4.

Montagem 2

Apesar do VVZ ser responsável por causar tanto o herpes zoster quanto a catapora, as vacinas disponíveis para prevenção dessas doenças são diferentes, sendo que a vacina para a catapora não apresenta eficácia comprovada contra o herpes zoster4,6. Ambas possuem o vírus em sua forma atenuada, porém, enquanto a dose da vacina para catapora possui em torno de 1.350 unidades formadoras de placa (UFP), a vacina indicada para o herpes zoster possui pelo menos 19.400 UFP, sendo essa quantidade do vírus atenuado necessária para promover a imunização contra o VVZ em idosos4,7,8.

A vacina para prevenir a catapora no Brasil é disponibilizada pelo SUS desde setembro de 2013 e deve ser administrada em duas doses9,10. De acordo com o calendário de vacinação vigente, as crianças com um ano de vida recebem a vacina triviral (sarampo, caxumba e rubéola), três meses depois é administrada a vacina tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e catapora), que corresponde à primeira dose da vacina contra catapora, e aos quatro anos recebem uma vacina monovalente, para a catapora, como uma segunda dose11, 12.

Já a vacina para o herpes zoster não é disponibilizada pelo SUS, mas pode ser encontrada em clínicas privadas. É recomendada em dose única para pessoas a partir dos 60 anos, mesmo as que já manifestaram herpes zoster, não sendo tão efetiva quando aplicada após os 80 anos13,14. É indicada como forma de prevenção à infecção e às complicações decorrentes dela, podendo reduzir a intensidade e duração das dores, além de amenizar a manifestação da neuralgia pós-herpética4,7. Essa vacina é contraindicada para pacientes imunodeprimidos, diagnosticados com tuberculose e grávidas7. As reações adversas da vacina ainda são pouco conhecidas por se tratar de um produto relativamente novo. Até o momento, o maior número de relatos são reações no local de aplicação da vacina, como inchaço e vermelhidão7.

As doenças e suas complicações podem trazer prejuízos significativos à qualidade de vida do indivíduo, por isso a vacinação é uma medida muito importante para prevenir casos de infecções, diminuindo a taxa de morbidade associada a elas13. Sabendo disso, os pais/responsáveis devem estar atentos para o cumprimento do calendário de vacinação das crianças contra a catapora. No caso dos idosos, é necessário que os profissionais de saúde avaliem o custo-benefício da imunização contra o herpes zoster, considerando as condições clínicas e socioeconômicas do indivíduo, e o direcionem para vacinação quando essa indicação for adequada e necessária.

*Neuralgia pós-herpética: síndrome de dor em partes do corpo, associada ao sistema nervoso central, que irá se manter ou se desenvolver após cicatrização das lesões causadas pelo herpes zoster4.

Referências

  1. Comissão de Saúde Pública de Boston. Zona ou “cobreiro” (Herpes Zoster). Boston; 2018. [acesso em 2018 outubro 22]. Disponível em: http://www.bphc.org/whatwedo/infectious-diseases/Infectious-Diseases-A-to-Z/Documents/Fact%20Sheet%20Languages/Shingles/Portuguese.pdf
  2. Manual MSD: Versão para Profissionais de Saúde. Herpes-zóster. [acesso em 2018 outubro 22]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/herpes-v%C3%ADrus/herpes-z%C3%B3ster
  3. Manual MSD: Versão Saúde para a Família. Herpes zóster. [acesso em 2018 outubro 22]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%B5es-virais/herpes-z%C3%B3ster
  4. Oxman MN, Levin MJ, Johnson GR, Schmader KE, Straus SE, Gelb LD, et al. A vaccine to prevent herpes zoster and postherpetic neuralgia in older adults. The New England journal of medicine. 2005;352(22):2271-84.
  5. Pasternak J. Vacina contra herpes-zóster. Einstein (São Paulo). 2013;11:133-4.
  6. Goldman GS. Universal varicella vaccination: efficacy trends and effect on herpes zoster. International journal of toxicology. 2005;24(4):205-13.
  7. Anvisa. Vacina herpes zoster (atenuada). [acesso em 2018 outubro 26]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmvisualizarbula.asp?pnutransacao=9012322013&pidanexo=1839785
  8. Anvisa. Vacina varicela (atenuada). [acesso em 2018 outubro 26]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=9195872015&pIdAnexo=2900546
  9. Sociedade Brasileira de Imunizações. Vacina varicela (catapora). [acesso em 2018 novembro 14]. Disponível em: https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis/80-vacina-varicela-catapora
  10. Ministério da Saúde. Vacina contra catapora compõe o Calendário Nacional de Vacinação. [acesso em 2018 novembro 14]. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/saude/2013/09/vacina-contra-catapora-compoe-o-calendario-nacional-de-vacinacao
  11. Ministério da Saúde. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. [acesso em 2019 março 17]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf
  12. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação 2018. [acesso 2019 fevereiro 23]. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/11/Calendario-de-Vacinacao-2018.pdf
  13. Creed R, Satyaprakash A, Ravanfar P. Varicella zoster vaccines. Dermatologic therapy. 2009;22(2):143-9.
  14. Sociedade Brasileira de Imunizações. Guia de Vacinação Geriatria. [acesso em 2018 outubro 29]. Disponível em: https://sbgg.org.br//wp-content/uploads/2014/11/Guia-Geriatria_SBIM-SBGG-2a-ed-140902a-141205-1210-web.pdf

Parkinsonismo induzido por medicamentos

Por Lorena Moreira C. Campos

Parkinsonismo ou síndrome parkinsoniana são termos utilizados para designar um conjunto de sinais e sintomas característicos, como tremor, rigidez, instabilidade postural, dificuldade e lentidão dos movimentos, que podem ter diferentes causas1.

imagem3

Fonte: Google Imagens

A doença de Parkinson é a causa mais comum e conhecida de parkinsonismo, e trata-se de uma disfunção crônico-degenerativa do sistema nervoso central, associada à diminuição intensa da produção de dopamina2. As outras causas de parkinsonismo são conhecidas como formas secundárias, síndromes parkinsonianas atípicas e doenças degenerativas hereditárias1,2.

O parkinsonismo induzido por medicamentos é uma forma secundária de parkinsonismo2, e ocorre quando o indivíduo é exposto a um determinado medicamento que interfere na transmissão dopaminérgica. Acomete principalmente os idosos3, devido às mudanças fisiológicas que ocorrem durante o envelhecimento e ao uso crônico de medicamentos que estão associados à indução da síndrome (Quadro 1).

Quadro 1 – Exemplos de medicamentos indutores de parkinsonismo1,4,5,6

Classe farmacológica          Medicamentos
Antipsicóticos típicos haloperidol, clorpromazina, prometazina

Antipsicóticos atípicos

risperidona, olanzapina, ziprasidona, aripiprazol, clozapina e quetiapina
Antivertiginosos flunarizina, cinarizina
Antieméticos metoclopramida
Estabilizador do humor lítio
Antiepilépticos valproato, fenitoína
Antidepressivos inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS) fluoxetina, sertralina
Antiarrítmico amiodarona
Antagonistas dos canais de cálcio diltiazem, verapamil

O reconhecimento precoce do parkinsonismo induzido por medicamentos possibilita a redução ou até reversão dos sintomas. No entanto, em alguns estudos observa-se a persistência da doença mesmo após a retirada do medicamento desencadeante 5,6.

A diferenciação correta entre a doença de Parkinson e o parkinsonismo induzido por medicamentos também é extremamente importante, uma vez que a abordagem individual dos cuidados e complicações do paciente depende de um diagnóstico correto, pois cada causa possui um curso clínico, resposta ao tratamento e prognóstico específicos7.

As principais estratégias utilizadas para melhora do quadro clínico do paciente vão desde a redução da dosagem, até a retirada ou substituição do medicamento para outra classe farmacológica mais apropriada. Também é necessário o monitoramento terapêutico, pois os sinais e sintomas podem persistir por até um ano após a retirada do fármaco5. A avaliação e o acompanhamento do tratamento devem ser feitos por um profissional de saúde qualificado e exige atenção especial no caso de pacientes idosos.

 

* Agradecemos pela colaboração das farmacêuticas Ronara Camila de Souza Groia (especialista em saúde do idoso) e Andrezza Gouvêa dos Santos (residente em saúde do idoso).

 

Referências:

[1] DynaMed [Internet]. Ipswich (MA): EBSCO Information Services. 1995 – . Record No. 900242, Parkinsonism; [updated 2017 Jun 01].

[2] Olanow CW, Schapira AHV, Obeso JA. Parkinson’s Disease and Other Movement Disorders. In: Kasper D, Fauci A, Hauser S, Longo D, Jameson JL, Loscalzo J, editors. Harrison’s Principles of Internal Medicine, 19e. New York, NY: McGraw-Hill Education; 2015.

[3] Jose Luis Lopez-Sendon, Marıa Angeles Mena and Justo Garcıa de Yebenes. Drug-Induced Parkinsonism in the Elderly. 2012 Nov ;  (2): 105-118.

[4] DAMÁSIO J., CARVALHO S. Doenças do movimento induzidas por fármacos. Artigo de revisão. Acta MedPort 2011; 24: 915-922.

[5] Hae-Won Shina, Sun Ju Chung. Drug-Induced Parkinsonism. J Clin Neurol. 2012 Mar; 8(1): 15–21.

[6] José López-Sendon, Maria A Mena, Justo G de Yébenes. Drug-induced parkinsonism. Expert Opin. Drug Saf.

 [7] Munhoz RP, Werneck LC, Teive HAG. The differential diagnoses of parkinsonism: Findings from a cohort of 1528 patients and a 10 years comparison in tertiary movement disorders clinics. Clin Neurol Neurosurg. 2010 Jun;112(5):431–5.