Dengue, Zika e Chikungunya: quais medicamentos evitar?

por Daniela Fernandes Silva

Hoje, dia 05 de maio, é o Dia Nacional pelo Uso Racional de Medicamentos e os conselhos de farmácia promovem campanha para alertar a população da importância do uso correto dos medicamentos e conscientizar sobre os riscos da automedicação.  Esse ano  a campanha  também tem como objetivo  reforçar as orientações e cuidados em casos de dengue, zika e chikungunya.

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De janeiro a início de abril foram registrados no Brasil 802.429 casos prováveis de dengue, 38.332 casos de febre chikungunya e 91.387 de zika1. Esse cenário gera grande preocupação e alerta para a necessidade de combater o mosquito transmissor (Aedes aegypti).

As três doenças apresentam sintomas semelhantes (figura 1), tornando difícil seu diagnóstico diferencial. Assim, casos suspeitos de Zika e Chikungunya devem ser tratados como dengue, pois dentre as três é a mais comum3. Como não há tratamento específico para elas, tratam-se os sintomas utilizando analgésicos e antitérmicos, como paracetamol e dipirona2, e em casos de urticária (placas avermelhadas na pele que causam coceira e inchaço) pode-se utilizar antialérgicos, como a dexclorferinamina3. Medicamentos que contêm ácido acetilsalicílico (AAS), ibuprofeno e outros anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) devem ser evitados, pois inibem elementos essenciais para a coagulação sanguínea, que já é prejudicada pela redução de plaquetas causada por esses vírus(ERRATA), favorecendo e agravando a ocorrência de hemorragias 4.

Procure o auxílio de um profissional da saúde para se orientar acerca de quais medicamentos e a maneira correta de usá-los para o alívio dos sintomas. Também é recomendado ingerir bastante líquido e repousar para auxiliar na recuperação.  Vale ressaltar que mesmo os medicamentos de venda livre, como o paracetamol e a dipirona, requerem cuidados no seu uso. O paracetamol, por exemplo, pode levar a alterações no fígado, principalmente, quando ultrapassada a dose máxima diária recomendada. (Leia mais sobre o paracetamol)

tabela dengue

ERRATA: a redução de plaquetas causada pelo vírus da dengue é bem estabelecida na literatura científica. Para os vírus da zika e chikungunya existem estudos isolados que apontam uma redução, mas ainda não é bem estabelecida, necessitando de mais evidências sobre o assunto.

Referências:

1 Brasil, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico.  Monitoramento dos casos de dengue, febre de chikungunya e febre pelo vírus Zika até a Semana Epidemiológica 13, 2016; 47(18). [Acesso em 2016 mai 03]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/abril/26/2016-014—Dengue-SE13-prelo.pdf

2 Brasil, Ministério da Saúde. Dengue aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento. 2002, p.13. [acesso em 2016 abr 05] Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_aspecto_epidemiologicos_diagnostico_tratamento.pdf

3 Brasil, Ministério da Saúde. Prevenção e combate Dengue, Chikungunya e Zika. [acesso em 2016 abr 05]. Disponível em: http://combateaedes.saude.gov.br/tira-duvidas

4 Grosser T, Smyth E, FitzGerald AG. Agentes anti-inflamatórios, antipiréticos e analgésicos; farmacoterapia da gota. In: Kaushansky K, Kipps JT. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12ª edição; 2012. p.962-64.

Analgésico, homeopatia, vacina: afinal, qual é o tratamento para dengue?

por Patrícia V. do Amaral

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Ameaça para 2,5 bilhões de pessoas em mais de 100 países, a dengue é um desafio para as autoridades de saúde pública no Brasil, que precisam destinar, a cada ano, mais recursos para ações de prevenção e atendimento1. Aproximadamente 50 milhões de pessoas se infectam por ano no mundo, e no Brasil esse número ultrapassou 590 mil casos em 20122. A doença tem maior prevalência nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, já que as condições do meio ambiente favorecem a proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito vetor.

Não há vacina ou medicação específica para a dengue1. A conduta terapêutica se baseia em acompanhamento ambulatorial, hidratação oral, uso de medicamentos para tratar os sintomas e repouso. Administrar dipirona sódica auxilia na redução da febre e dores nas articulações, assim como o paracetamol3. No entanto, não deve ser feita a administração de aspirina ou ibuprofeno, uma vez que podem aumentar o risco de hemorragia4. Em se tratando do paracetamol deve-se ter muito cuidado para não ultrapassar a dose diária, pois ambos, doença e medicamento, afetam o fígado. Por isso, os pacientes devem consultar o médico.

A prevenção primária é atualmente possível apenas com o controle de mosquitos e proteção pessoal contra as picadas. O desenvolvimento de vacinas e fármacos tem o potencial para mudar essa realidade5, mas são apenas promessas da ciência. Tendo em vista a amplitude da doença e o potencial econômico de uma vacina, os estudos têm mobilizado pesquisadores, indústrias farmacêuticas e órgãos públicos e privados. Uma vacina segura, efetiva e acessível contra a dengue poderia representar um grande avanço no controle. Diversas vacinas candidatas estão atualmente em diferentes estágios pré-clínicos e clínicos de desenvolvimento6.

A homeopatia tem sido utilizada como opção terapêutica. Essa especialidade médica e farmacêutica consiste em ministrar doses do medicamento ao doente de acordo com a lei dos semelhantes e a formulação homeopática, para evitar o agravamento dos sintomas e estimular a reação orgânica na direção da cura7. O tratamento homeopático é individualizado e dirigido para o restabelecimento do equilíbrio da força vital (energia que governa todo o funcionamento do ser vivo). Embora em geral utilize produtos oriundos das plantas, não deve ser confundida com a fitoterapia, que é o uso de plantas dentro dos princípios da medicina alopática, ou mesmo do tratamento baseado nas tradições populares.

Em 2007, diante da gravidade de uma epidemia, a cidade de Macaé, Rio de Janeiro, decidiu agregar ao plano de contingência da doença a utilização de medicamento homeopático. A motivação foi a aprovação da Política Nacional de Práticas Integradas e Complementares (PNPIC) no SUS, que prevê o uso da homeopatia na implantação de protocolos voltados à ação nas endemias e epidemias8. Segundo dados da Vigilância em Saúde daquele município, a incidência da doença na cidade no ano de 2008 teve queda de 71%, em relação ao ano de 2007, ao passo que o Estado teve sua incidência aumentada em 315%9. Embora esta seja uma evidência à primeira vista muito forte, deve-se levar em conta que a epidemia de dengue é um processo multifatorial e não necessariamente essa redução se deu em função da adoção do medicamento. Afora os potenciais vieses das estatísticas, os meios acadêmicos e de saúde devem ficar atentos às potencialidades dessa modalidade de tratamento. Além de uma forte tradição histórica, de princípios filosóficos bem estabelecidos e testados por meios e processos muito diferentes da ciência cartesiana que baseia a prática da medicina alopática moderna, a homeopatia tem uma grande aceitação popular, é de fácil administração em casos de epidemia e apresenta custo acessível.

A falta de estudos e pesquisas que confirmem a eficácia do uso da homeopatia na prevenção e no tratamento da dengue é apontada por técnicos do Rio de Janeiro e Brasília como justificativa para não usá-la. Em outras cidades, como Vitória e Natal, testes e estudos estão sendo desenvolvidos antes da implantação dessa terapia a fim de fornecer dados sobre a eficácia do produto dentro dos padrões exigidos, inclusive com revisão do protocolo por um grupo de pesquisadores da International Scientific Committee on Homeopathic Investigations (ISCHI)10.

Em nota de junho de 2011, o Ministério da Saúde contraindicou qualquer forma substitutiva de tratamento da dengue, incluindo a utilização de medicamentos homeopáticos, que não seja a prevista no protocolo oficial vigente no país. Sendo eles considerados complementares às ações de saúde pública e coadjuvantes ao plano de conter ou minimizar a evolução e os agravos da epidemia de dengue11. Independente de qualquer opinião ou evidência contra ou a favor do uso, é necessário a população entender que existe um medicamento contra a dengue, que pode ou não aliviar seus sintomas ou melhorar a evolução da doença no paciente, mas que não é uma vacina homeopática que previne a dengue, como tem sido veiculado. Esse medicamento tem registro na ANVISA desde dezembro de 2008 e existem esforços para provar sua eficácia, mas nada ainda existe definido de acordo com os testes científicos hoje aceitos como comprovação de eficácia de um medicamento. Segundo os princípios da homeopatia, esse medicamento tem a indicação de auxiliar no tratamento dos sintomas da dengue, sendo a profilaxia uma dúvida. Por isso as pessoas não devem se descuidar das outras medidas de controle da doença, que envolvem sempre o combate à proliferação do mosquito.

Referências:
1Combate a Dengue. Vacina contra a dengue até 2015. Disponível em: http://www.combateadengue.com.br/vacina-contra-a-dengue-ate-2015/#ixzz2QemV4MKy. Acesso em 19 de abril de 2013.
2Brasil. Ministério da Saúde. Incidência e Casos de Dengue. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 1990 a 2012. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/dados_dengue_classica_2012_at032013.pdf. Acesso em 13 de maio de 2013.
3Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão. Dengue; diagnóstico e manejo clínico – adulto e criança. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
4WHO. Dengue control. Disponível em: http://www.who.int/denguecontrol/faq/en/index.html. Acesso em 19 de abril de 2013.
5WHO. Dengue: guidelines for diagnosis, treatment, prevention and control – New edition. Geneva, World Health Organization, 2009.
6 WHO. Initiative for Vaccine Research (IVR). Dengue vaccine research. Disponível em: http://www.who.int/vaccine_research/development/dengue_vaccines/en/index.html. Acesso em 13 de maio de 2013. 
7Fontes OL. Farmácia Homeopática: teoria e prática. 2. Ed. São Paulo: Manole; 2005.
8Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf. Acesso em 14 de maio de 2013.
9Nunes, L. Dengue e Homeopatia: a bem-sucedida experiência de Macaé. Disponível em: http://www.ecomedicina.com.br/site/conteudo/entrevista22.asp. Acesso em 19 de abril de 2013.
10Perisse, A. Homeopatia e dengue: a importância da comprovação científica. Ecomedicina. Disponível em: http://www.ecomedicina.com.br/site/conteudo/entrevista23.asp. Acesso em 19 de abril de 2013.
11Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Nota Técnica nº 140 / 2011 – Tratamento as dengue e uso da homeopatia. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/tratamento_dengue_uso_homeopatia_6_6_2011.pdf. Acesso em 13 de maio de 2013.