por Marina Rezende Da Silveira
O ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C, é uma substância essencial para os seres humanos, sendo muito importante para diversas funções no organismo, como a estimulação do sistema imunológico e prevenção de doenças, tais como o escorbuto*1. Essa vitamina não pode ser sintetizada pelo próprio corpo e por isso deve ser obtida através da alimentação, preferencialmente por meio de vegetais e frutas2,3. A ingestão recomendada de vitamina C para adultos é de 75 a 100mg/dia e, em caso de infecções, gravidez e tabagismo, doses maiores podem ser necessárias2,4. Além dos benefícios já conhecidos, obtidos por meio da ingestão, produtos com essa vitamina para uso externo são utilizados com o objetivo de aprimorar a saúde e aparência da pele³. Apesar de existirem mecanismos que justifiquem esse uso, há algumas limitações, o que levanta questionamentos sobre a real contribuição da vitamina C administrada por via tópica3.
A vitamina C tem um papel importante na produção e estabilização de colágeno, proteína responsável pela capacidade elástica e resistência da pele. Com o envelhecimento, ocorrem alterações na forma dessa proteína e redução de seus níveis no organismo, provocando diminuição da elasticidade e espessura da pele, o que causa o aparecimento de rugas2. O uso tópico da vitamina C pode estabilizar e aumentar a produção de colágeno na pele envelhecida2,3. Outra questão interessante, é que essa vitamina também age no clareamento da pele, pois atua na inibição da produção de melanina (proteína responsável pela pigmentação), sendo então indicada para tratamentos de manchas e melasma*3.
Além disso, a vitamina C protege a pele contra a ação dos raios ultravioleta (UV), os quais promovem a geração de radicais livres5. A proteção fornecida por essa vitamina se deve ao fato de que essa é um antioxidante muito abundante na pele humana, protegendo-a dessas espécies reativas5. Tal característica é importante, já que esses radicais causam danos às proteínas e ácidos nucleicos (principais componentes do DNA) e podem estar entre os fatores responsáveis pela aceleração do envelhecimento e a ocorrência do câncer de pele5.
Apesar do uso tópico da vitamina C ser potencialmente benéfico para a pele, essa via de administração apresenta fatores limitantes, já que não é uma substância fácil de ser absorvida. A molécula é instável e, por ser solúvel em água, possui dificuldade em ultrapassar a barreira da pele, pois nela há uma camada lipídica, sendo necessário valores de pH e concentrações específicas para a sua penetração6. Portanto, os benefícios do uso externo dessa vitamina dependem das propriedades do produto utilizado3.
Outro possível fator limitante é a saturação da quantidade de vitamina C disponível no sangue. Ao ser ingerida, a vitamina chega à pele por meio da corrente sanguínea, de modo que a sua quantidade aumenta à medida em que há aumento da ingestão. Porém, quando a concentração plasmática alcança um nível máximo, não há mais transferência para a derme. Assim, caso haja saturação da vitamina no sangue, esta provavelmente não será absorvida pelo meio externo e seu uso tópico não será efetivo3.
Assim, embora a vitamina C seja essencial para a saúde da pele e o seu uso tópico tenha potenciais benefícios, sua instabilidade e absorção limitada por via externa, dificultam o acesso a produtos realmente eficazes. Dessa forma, é importante garantir a obtenção dessa vitamina por meio da alimentação e manter o uso tópico somente em situações nas quais se observe uma relação custo-benefício positiva.
*Glossário:
Escorbuto: Doença causada pela ausência de vitamina C. Os sintomas incluem má cicatrização das feridas, hemorragias e inchaço na gengiva7.
Melasma: Condição em que ocorrem manchas hiperpigmentadas, geralmente na face. É mais comum em mulheres e pessoas com tipos de pele mais escuros. É possivelmente provocado por raios UV e influências hormonais8.
Referências:
1- Telang PS. Vitamin C in dermatology. Indiandermatology online journal. 2013;4(2):143-6.
2.Manela-Azulay M, Mandarim-de-Lacerda CA, Perez MdA, Filgueira AL, Cuzzi T. Vitamina C. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2003;78:265-72.
3- Pullar JM, Carr AC, Vissers MCM. The Roles of Vitamin C in Skin Health.Nutrients. 2017;9(8).
4-National Institutes Of Health. Vitamin C. Bethesda, Marlyland; 2018.[acesso em 2019 abr 15].Disponível em: https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminC-HealthProfessional/
5-Al-Niaimi F, Chiang NYZ. Topical Vitamin C and the Skin: Mechanisms of Action and Clinical Applications. The Journal of clinical and estheticdermatology. 2017;10(7):14-7.
6-Crisan, Diana et al. “The role of vitamin C in pushing back the boundaries of skin aging: an ultrasonographic approach.” Clinical, cosmetic and investigational dermatology vol. 8 463-70. 2 Sep. 2015
7-Maxfield L, Crane JS. Vitamin C Deficiency (Scurvy) [Updated 2019 Jan 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2019 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK493187/
8-Ogbechie-Godec OA, Elbuluk N. Melasma: an Up-to-Date Comprehensive Review. Dermatology and therapy. 2017;7(3):305-18.