Uma pesquisa realizada recentemente por Kari A. O. Tikkinen e Anssi Auvinen, médicos finlandeses, revela que a síndrome da bexiga hiperativa está sendo indevidamente utilizada como mero instrumento comercial. A pesquisa aponta divergências e conflitos de interesses que circundam a doença no contexto da medicalização.
Atualmente a síndrome da bexiga hiperativa (OAB, overactive bladder) é definida pela Sociedade Internacional de Continência como a urgência urinária, com ou sem incontinência, com uma frequência aumentada diurna e noturna na ausência de infecção ou outra patologia óbvia.
A inespecificidade da definição conduz médicos a diagnosticarem simples e quaisquer sintomas do sistema urinário como OAB, e usarem um tratamento medicamentoso padronizado. Tratamentos desnecessários expõem os pacientes aos efeitos colaterais dos medicamentos, acarretando riscos que poderiam ser evitados. Estes tratamentos também aumentam seus gastos, o que favorece a indústria propiciando maior faturamento.
Segundo os autores do artigo, a melhor forma para contornar o problema conceitual da síndrome OAB seria “investigar os sintomas individual e separadamente para entender seus diferentes fatores de risco e fisiopatologia.” Contudo, esta forma de acompanhamento individual e seletiva não é simples e envolve maior disposição e disponibilidade dos profissionais. Por conseguinte, adota-se um tratamento generalizado, situação em que, “um medicamento pode ser prescrito para um grande número de pacientes.”
A pesquisa relata que grande parcela dos estudos epidemiológicos são realizados por indústrias farmacêuticas, evidenciando claramente o conflito de interesse financeiro. Em um desses estudos patrocinado pela indústria foi constatado que uma em cada nove pessoas no mundo já foram diagnosticadas com a síndrome. Esta proporção transcende a normalidade e deixa claro que a síndrome OAB tem sido altamente lucrativa para a indústria.
Para diminuir este índice e adotar “tratamentos mais eficazes, seria necessário abandonar o conceito da síndrome OAB.” Enquanto a prática do tratamento individualizado não ocorre, mais pessoas continuam envolvidas nesse processo de medicalização. E assim, a medicalização vai gerando lucros exorbitantes para a indústria farmacêutica enquanto o paciente que deve ser o foco das atenções em suas necessidades, fica em segundo plano como instrumento de comercialização de medicamentos.
Referências:
– Does the Imprecise Definition of Overactive Bladder Serve Commercial Rather than Patient Interests? – European Urology – Acesso em Março de 2012 http://www.europeanurology.com/article/S0302-2838(11)01375-3/fulltext
– Síndrome da Bexiga Hiperativa serve a interesses comerciais, não dos pacientes – Diário da Saúde – Acesso em Março de 2012 http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=sindrome-bexiga-hiperativa-serve&id=7338