por Kathleen Monique C. G. Silva
A isotretinoína é um medicamento retinoide utilizado no tratamento de alguns tipos graves de acne, como a acne nodulocística, acne conglobata, acne com frequentes recidivas e não responsiva a antibioticoterapia oral por um período de pelo menos dois meses1. A acne nodulocística é caracterizada pela presença de pontos negros inflamados associados a lesões císticas e nodulares, já a acne conglobata pode apresentar as mesmas características da acne nodulocística, além de numerosos e grandes nódulos purulentos1. A prescrição, comercialização e uso da isotretinoína no Brasil estão sujeitos a controle especial, conforme os critérios estabelecidos na Portaria do Ministério da Saúde nº 344, de 12 de maio de 1998 2. A restrição do uso da isotretinoína justifica-se pelo seu potencial de causar efeitos adversos graves.
Entre os efeitos adversos da isotretinoína está o risco de malformação congênita, definido como a malformação de órgãos ou partes do corpo durante o desenvolvimento no útero3. Pode ocorrer malformação na orelha, olho, craniofacial, cérebro, ouvido, escroto, sobrancelhas, lábios, dedos dos pés ou mão e anormalidades motoras4-9. Por essa razão, a isotretinoína é classificada na categoria X pela agência reguladora americana FDA (Food and Drug Administration), o que significa que seu uso é contraindicado durante a gestação10.
Em função da necessidade de se definir critérios adequados para o uso seguro da isotretinoína, foi criado o protocolo de uso do medicamento1, que complementa os mecanismos de controle estabelecidos na Portaria nº 344/98. A prescrição do medicamento deve ser realizada com o preenchimento da notificação de receita branca e assinatura pelo responsável legal ou pelo paciente (maior de 21 anos de idade) do termo de conhecimento de riscos e consentimento pós-informação, em que consta, entre outras informações, a contraindicação do uso por mulheres grávidas2.
Atualmente, sabe-se que a isotretinoína pode causar malformação congênita caso a mulher engravide durante ou até 30 dias após a finalização do tratamento1. Por isso, no Brasil há recomendações para a realização de teste sorológico de gravidez (beta-HCG) antes do início do uso, uma vez ao mês durante o tratamento e até a quinta semana após sua conclusão1. Além disso, quando iniciado o tratamento em pacientes do sexo feminino, elas devem estar utilizando dois métodos contraceptivos de eficácia comprovada há pelo menos 60 dias. Os métodos contraceptivos utilizados devem ser um hormonal e outro não, ressaltando que a escolha destes será baseada na indicação para cada mulher e realizada em conjunto com o médico responsável. É também responsabilidade da paciente manter os métodos contraceptivos até 60 dias após a última administração de isotretinoína, devido à permanência do fármaco no organismo por 30 dias1. A figura abaixo apresenta informações sobre cuidados que devem ser tomados durante a utilização da isotretinoína para evitar a ocorrência de casos de malformação congênita.
Referências:
- Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria n. 1159 de 18 de novembro de 2015: Protocolo de uso da isotretinoína no tratamento da acne grave. Brasil, 2015. Disponível em: < https://bit.ly/2W6F1gB >. Acesso em: 14 jan 2019.
- Secretária de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Portaria n. 344 de 12 de maio de 1998. Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Capítulo 5, 1988. Disponível em: < https://bit.ly/1uP4Kvg >. Acesso em: 14 jan 2019.
- DESCRITORES EM CIÊNCIAS DA SAÚDE: DeCS. Anomalias congênitas. ed. 2018. rev. e ampl. São Paulo: BIREME / OPAS / OMS, 2018. Disponível em: < http://decs.bvsalud.org>. Acesso em: 14 jan 2019.
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- KÄLLÉN, B. Restriction of the use of drugs with teratogenic properties: Swedish experiences with isotretinoin. Teratology. v. 20, n. 2, p. 53, 1999.
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- MICROMEDEX SOLUTIONS®. Isotretinoin. Truven Health Analytics. Greenwood Village, Colorado, Estados Unidos da America. Disponível em: <https://bit.ly/2T6e8XV>. Acesso em: 14 jan 2019.