Guia para redução de riscos na prescrição de metilfenidato

por Raissa Carolina Fonseca Cândido

O “Methylphenidate: web-based prescribing guide European Union” é um conjunto de perguntas elaborado com o objetivo de minimizar o risco de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, neuropsiquiátricas e do crescimento decorrentes do uso do metilfenidato (Ritalina® e Concerta®). Foi criado a partir da parceria entre as empresas farmacêuticas Janssen, Medice, Novartis, Rubió, Shire e Mylan, que comercializam o medicamento na Europa.

Fonte: Google Imagens

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Divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), European Medicines Agency (EMEA) e algumas outras agências reguladoras da Europa, o instrumento é indicado  para auxiliar o prescritor tanto na prescrição, quanto no acompanhamento de pacientes que fazem uso do metilfenidato.

A criação de uma ferramenta para verificar o risco envolvido no uso do metilfenidato, já no momento da prescrição, parece ser um avanço na segurança da indicação do  medicamento. Contudo, o desconhecimento de informações sobre a validação desse instrumento, incluindo os possíveis conflitos de interesse envolvidos, impossibilita-nos  de avalia-lo criticamente.

A ferramenta pode ser acessada em http://www.methylphenidate-guide.eu/ e todos os formulários estão disponíveis para impressão. Ressaltamos que a leitura dos documentos e instruções disponíveis antes da utilização dos formulários é de suma importância. E recomendamos cautela na utilização desses formulários, pois foram planejados de acordo com as características de saúde dos pacientes europeus.

Drogas não são brincadeira de criança

Por Raissa Carolina Fonseca Cândido

         Em 2006, a Organização das Nações Unidas produziu uma cartilha sob o título: “Drogas não são brincadeira de criança” destacando o importante papel que família e escola desempenham na prevenção do uso de drogas ilícitas por menores de 15 anos.

                        Hoje, utilizando deste mesmo título escrevo também sobre o uso de drogas por crianças e adolescentes, porém considerando a seguinte perspectiva: até que ponto família e escola têm participação na medicalização infantil, originando um consumo exagerado de drogas lícitas por estes indivíduos?

              O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma síndrome caracterizada por distração, agitação/hiperatividade, impulsividade, desorganização entre outros sintomas¹ e para Nádia Mara Eidt, “No contexto escolar, a hiperatividade e/ou déficit de atenção apresenta-se como justificativa corrente para o fracasso escolar de um número expressivo de crianças, atribuindo-se a elas a responsabilidade por não aprender e isentando de análise o contexto escolar e social em que estão inseridas”².

Segundo pôster apresentado no 3º Congresso Mundial de TDAH por pesquisadores do Instituto Glia de Pesquisa em Neurociências, USP, Unicamp e o Albert Einstein College of Medicine (EUA), 75% das crianças e adolescentes que usam medicação para o tratamento de TDAH no Brasil tiveram diagnóstico incorreto³.

De acordo com este trabalho, apenas 23,7% das 459 crianças diagnosticadas com TDAH realmente tinham o transtorno e das 128 crianças que faziam uso de Ritalina® para tratá-lo somente 27,3% sofriam com a doença³. Dados estes que se tornam ainda mais alarmantes já que o Brasil é apontado como o segundo maior consumidor de Ritalina® no mundo¹.

         O estudo que deu origem ao pôster já citado ainda não foi publicado, contudo de acordo com Prof. Dr. Marco Antônio Arruda, um dos autores do trabalho, “o estudo mostra que a realidade brasileira é de subdiagnóstico e subtratamento do TDAH. Sendo que o excesso de diagnósticos e de tratamento com psicoestimulantes ocorre principalmente nas classes A e B, que não são predominantes no nosso país”.

         Sendo assim, é preciso rever o diagnóstico e o tratamento de transtornos como o TDAH e repensar o papel do medicamento nestes tratamentos, considerando que conforme dito pela médica e pesquisadora da Unicamp, Maria Apparecida Moysés “As mudanças que aconteceram na história da humanidade foram pelos questionamentos, sonhos e utopias. Ao medicalizar, estamos abortando um futuro diferente, sem criatividade.”

Referências:

¹ Instituto Paulista de Déficit de Atenção. Acessado em: 27/01/2012. Disponível em: http://www.dda-deficitdeatencao.com.br/tdah/

² Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade e psicologia histórico-social. Nádia Mara Eidit. Acessado em 27/01/2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v40n139/v40n139a07.pdf

³ Are Psychostimulants Overprescribed in Brazilian school-aged children? Marco A. Arruda, Maria Valeriana Moura-Ribeiro , José Hércules Golfeto , Marcelo E. Bigal, Guilherme V. Polanczyk.

(Texto extraído do V.8, n°1 do Boletim publicado em 31/10/11)*.

*As matérias deste número ainda não foram postadas no Blog, em breve vocês poderão ler todo o conteúdo deste nº por aqui.